Quando nossos alicerces estão ancorados em uma
pessoa ou situação, lidar com a perda nos jogará numa grande crise
existencial. Seus alicerces precisam estar ancorados em quem você é.
Meus alicerces procuro construir com a minha espiritualidade. Se me tirarem tudo, ainda terei a mim mesmo e a minha fé.
Quanto
mais vivemos mais percebemos que a vida é movimento. Tudo muda, o tempo
todo. A maioria de nós percebe as mudanças, mas quase ninguém sabe
lidar efetivamente com tudo isso. Vejo as pessoas se enganando sem
perceber, preferem não pensar no que está acontecendo e vão atropelando
seus próprios sentimentos, e vão construindo seus castelos na areia.
Afogando-se em ilusões.
Toda mudança traz perdas e ganhos. Temos
as grandes perdas como mortes e separações, temos as pequenas que se
somam continuamente no nosso dia a dia e, se não nos damos tempo
suficiente para ir percebendo-as, e nos despedindo com dignidade de cada
etapa, começamos a acumular inseguranças, mágoas, medos, raiva,
dúvidas, muita coisa mal resolvida.
Precisamos aprender a nos
despedir, a desapegar e depois aprender a lidar com o novo. Aprender a
nos despedir de quem parte. Aprender a nos despedir de nossa infância,
depois de nossa juventude. Aprender a nos despedir de nossos bebês que
crescem, de nosso antigo trabalho, de nosso corpo que muda. Aprender a
nos despedir de nossos avós, de nossos pais.
E como aprendemos
isso? Vivendo o presente e estando presentes nele. Não esperando para
nos despedir no último dia, mas indo nos despedindo um pouquinho a cada
dia, a cada encontro com o outro ou consigo mesmo. Isso não significa
que devo sofrer por antecipação, significa que devo sim viver aceitando e
sendo grato por cada instante, cada oportunidade de vida, que será
única e não se repetirá. Sempre que me lembro que tudo é muito
passageiro e que nada é para sempre, vivo o presente da melhor maneira
possível.
Aceitar o envelhecimento e tudo que ele traz junto de
si é algo muito difícil para a maioria das pessoas. De uma hora para
outra percebemos que perdemos a nossa juventude, a força, o vigor, as
possibilidades mudam. Aceitar com amorosidade uma fase nova de sua vida,
entendendo que tudo tem suas compensações, seus pontos positivos,
procurar tirar o melhor que o momento pode lhe oferecer. Aceitar que
sempre existem perdas e ganhos.
Mesmo que se por algum motivo
você não viveu a infância de seus filhos como gostaria e agora eles já
cresceram, não se perca na nostalgia de prender seus sentimentos a este
tempo que não volta mais, viva o hoje, aproveite a fase em que seu filho
está, e se está difícil este momento novo seu com ele, aproveite para
crescer, para aprender a conhecê-lo de novo e a se redescobrir como pai e
mãe mais uma vez.
Não permita que sua mente vagueie pelos
caminhos do arrependimento, não se arrependa de nada, o arrependimento
leva à mágoa e à tristeza, mas não nos faz diferentes. O que nos faz
diferentes é aprender com os erros. Se achou que o jeito que escolheu
para viver determinada coisa e momento de sua vida não foi uma escolha
boa, mude, faça diferente. Perdoe a si mesmo. Nunca busque culpados.
Faça como a água que ao deparar-se com obstáculos, apenas muda sua
direção, sem discutir ou culpar as pedras em seu caminho.
Aprender
a despedir-se é uma arte, uma entrega. Aceitar o novo, caminhar rumo ao
desconhecido, sem garantias, e ainda assim com coragem e gratidão, é um
ato de fé. Não pense mais que bons tempos foram os já vividos. Bons
tempos é o tempo do agora, o tempo onde está você, pois onde você
estiver estará também tudo que você já viveu.
A mágica perfeita
da vida é esta: somos únicos e cada momento que vivemos também é. E a
beleza está em saber que depois deste instante outro perfeito e único
virá. Por isso eu te peço, não se apegue ao momento, se apegue à vida!
Satya, pela inspiração de seu espírito guia.