Tardes de Inverno – Respingos do Umbral!

quinta-feira, 19 de março de 2015 2 comentários

Em um desses dias cinzentos e sem graça, acordei sentindo-me completamente desconectado da alma do mundo, do meio espiritual! Meus pés pareciam estar enraizados no solo firme terreno. Uma carga pesada agia sobre meu corpo, trazendo-me um imenso desânimo. Passei o dia tentando reagir. E, com o passar das horas, fui percebendo que não era apenas uma simples falha de conexão com o mundo astral, pois havia algo me puxando para baixo, ancorando-me em pensamentos densos, esgotando minha energia de vida!
Não tive dúvidas que o que estava acontecendo era uma espécie de ataque externo, mas, dessa vez - ao invés de me fechar e proteger de imediato - eu senti que deveria tentar entender o que se passava.
Minha mente estava dispersa, tive que juntar forças para me concentrar. Sai de casa para caminhar um pouco, sozinho! E, enquanto andava, voltando os olhos para dentro de mim, comecei a ouvir, em minha mente, gritos de desespero e dor! Uma angústia muito forte foi me tomando, mesmo assim tentei não romper o vínculo com aquele sinal. E a vibração foi aumentando de tal modo que chegou um momento em que uma tontura forte me dominou. Tive que procurar um lugar calmo para me encostar – ja estava longe e não conseguiria retornar para casa naquele estado.
Comecei a sentir muita dor em meu corpo, os gritos cada vez mais altos me traziam delírios. Parecia que eu estava gritando junto daquelas vozes. Sentia muito frio e depois algo parecia me queimar. Pancadas, tapas em minha cabeça e um vento cortante desagradável. Eu não conseguia sair daquela sensação de mal-estar, me desconectar. A exaustão chegou e me apagou! Quando nosso ser atinge o seu limite, nossos protetores nos acolhem, até que consigamos o mínimo de força para retornar.
Pouco depois fui acordando e percebendo que as vozes ainda estavam em minha mente. Mas, agora eram outras! Era uma oração! Os dizeres eram muito fortes e carregados de uma energia muito boa. Sonolento, acho que apaguei novamente por mais alguns instantes. Mas, desta vez retornei mais rápido. Quando acordei estava nas Colônias de Cura, num grande salão e, em minha frente, um grupo enorme de pessoas rezando e impondo intensamente suas energias em união, para uma mesma direção.
Nunca havia presenciado um trabalho tão intenso! As vozes ecoavam, fazendo vibrar as paredes, a composição daquelas pessoas gerava algo grandioso, difícil de descrever. No centro do círculo formado por eles pude ver, por alguns poucos instantes, imagens de um lugar escuro, sujo e estranho, onde muitas almas rastejavam. Aquilo tudo me chocou! Eu sabia que o objetivo que unia aquelas pessoas era algo divino, algo do bem, porém, era uma energia forte e vibrante demais confrontando minha natureza! Não dei conta da situação, precisei retirar-me logo do salão.
Senti novamente dor em todo meu corpo! Na verdade era a primeira vez que sentia meu corpo físico nos solos sagrados das Colônias! Eu suava, sentia sede, tremia!
Logo, uma moça que passava por ali me pegou pela mão e, transmitindo muita paz, começou a me explicar: Aquele era o grupo de resgate das almas do umbral! Eles intercediam por elas, canalizavam suas energias e seu amor acolhedor com o intuito de retirá-las da ilusão, do transe profundo da indiferença, para curar seus inconscientes delirantes, seus flagelos emocionais.
Paramos nas sombras de um pomar e ela mostrou-me mais imagens do umbral. Eu sabia da existência dele, mas, não imagina que era tão sombrio e triste! Desesperador, na verdade! Difícil de imaginar quais caminhos de vida levaram aqueles pobres espíritos até lá e principalmente, como iriam conseguir sair. Mas deu para compreender que sem ajuda, jamais sairiam!
O umbral é uma existência de energia densa localizada após as Colônias, para onde vão todos àqueles que, enquanto encarnados, atentaram contra sua própria vida, seja de forma direta pelo suicídio ou indireta pelas escolhas de hábitos nocivos, depreciando a própria saúde mental e física, se arriscando pela gula, ou por outros vícios – ou seja, foram atentando contra a vida gradualmente, até que conseguiram dar um fim nela.
No umbral algumas pessoas ja chegam arrependidas, com um pouco de lucidez e, assim passam pouco tempo por lá. Ja outras, chegam transtornadas, ainda muito ligadas aos desejos carnais e acabam sofrendo e permanecendo por lá muito mais!
Desde o momento que chegam lá começam a receber a ajuda das boas almas das Colônias e de alguns seres encarnados ricos em desapego que, amorosamente, de forma consciente ou não, canalizam a eles suas intenções. E lá, eles passam por várias fases: Primeiro, precisam realmente acordar, sair do transe profundo! Depois, precisam começar a perdoar a si mesmo, precisam parar de querer sofrer para apagar os erros do passado. Em seguida, vem à fase de começar a enxergar as réstias de luz e a aceitar as tantas ajudas que estão chegando. Por último, é necessário recuperar a vontade de recomeçar, de querer uma nova chance. E durante todo esse processo, por mais que não pareça, estão sendo amparados por muitos seres de luz.
Quando eles chegam às colônias ainda estão muito debilitados, estão conscientes e aceitaram sua nova realidade, mas ainda estão muito fracos, com muitas más lembranças, traumas e dores emocionais.
Existe outro grupo que trabalha recebendo esses flagelados do umbral nas Colônias. Eles têm a função de digamos, ressocializar esses almas.
Senti que era o momento de retornar à frequência mundana. Agradeci à moça pelo apoio e por mais esse aprendizado. Ela me deu um abraço se despedindo e apontou no horizonte para um espirito bem fraco, de áurea cinzenta, dizendo que ele havia chegado a pouco do umbral. Fui caminhando de regresso ao Portal das Colônias e, quando percebi, esse espirito que ela apontou estava caminhando ao meu lado. Ele foi todo o tempo calado e bem devagar. Reduzi meu ritmo para não ultrapassá-lo. Um pouco antes de eu passar pelo Portal ele parou e disse:
- Obrigado por sua visita e por sua ajuda!
- Qual é seu nome? – perguntei sem entender!
- Lucas! Disse ele antes de desaparecer.
Retornei ao meio físico! Minha mente estava leve, bem melhor, mas meu corpo físico estava em frangalhos – tive dificuldades para caminhar até minha casa! Não deveria, mas acabei absorvendo parte da carga negativa durante a visita ao umbral.
No final daquele dia, já bem mais disposto, enquanto eu me preparava para dormir uma voz conhecida sussurrou ao meu ouvido, pedindo para eu pegar um pedaço de papel e caneta, para psicografar. E materializou a mensagem que segue:

“Recentemente, enfrentei o inverno de minha existência! Grandes dificuldades se apresentaram. E, enquanto eu tentava recuperar as forças, acabei esquecendo até mesmo de quem eu era!
Não sei se por benção ou leve retardo, mas minha capacidade de memória nunca foi um primor. No livro da vida, enquanto a mão direita escrevia meus dias a esquerda apagava! Um imenso vazio nos registros do passado e de resto, em meu inconsciente, apenas resquícios insanos da lembrança de uma réstia de luz dourada escorrendo entre as frestas de algum telhado e do som de uma lira estridente metalizada. Apenas delírios!
Pensamentos viram pó, mas os sentimentos por eles gerados eternizam-se em nossa alma - os bons e os maus - por dádiva perfeita da criação! Talvez essa seja a explicação de um grande e impiedoso sentimento de culpa ter povoado minha mente cansada, mesmo eu não conseguindo lembrar daquilo que eu pudesse ter feito de tão errado. Meu corpo sempre suando frio sem aparente motivo, enquanto minha mente fugidia voava entre densa fumaça.
Lembranças não vinham, mas o sentimento era de que em alguma curva da estrada desviei-me completamente de meu caminho! Mas, quando? E por quê? Carma ou castigo? A insensibilidade tomou cada gota de mim, e eu sem saber para onde fugir! E no fim do poço, nenhum rosto! Cheguei ao auge de meu desespero!
Eu apenas rastejava. Não sabia por que estava alí, naquele lugar tão sombrio e hostil. Mas, não conseguia sair! Devo ter estado muitos momentos inconsciente, pois cada vez que eu despertava estava num lugar diferente e pior.
Agora estou bem! Ainda sinto náuseas e dores num corpo que nem existe mais. Mas, sinto que estou melhorando momento a momento. Ainda não retomei minhas memórias – às vezes penso que seria melhor nem recuperá-las mesmo – mas, elas devem retornar quando chegar a hora. E, por isso lhe chamei às Colônias, por isso lhe pedi para escrever, para me ajudar a ter a chance de materializar meu agradecimento, minha gratidão ao Pai misericordioso e a todos os seres que intercederam por mim, que acreditarem em minha recuperação quando eu mesmo duvidei. E desejo dedicar o restante de minha existência ao auxilio das almas que estão passando pelo que eu passei, que estão sentindo o que eu senti, que erraram como eu errei, para que se arrependam como eu me arrependi e para que reencontrem seus caminhos, assim como estou tentando reencontrar o meu. Agradeço ao mundo, pela nova chance que me foi concedida.”
Lucas D.

Julius, pela inspiração de Lucas D. – uma alma resgatada das garras do umbral... 
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2 comentários:

  • Edna Silva disse...

    Adorei! Muito bom! Como espírita que estou nesta encarnação agradeço a Deus todas as informações que chegam da espiritulidade como benção me renovando a cada dia. Peço permissão para fazer parte deste blog onde maiores informações obterei. Obrigada...Jesus conosco sempre!

  • Unknown disse...

    Agradecemos suas carinhosas palavras Edna Silva! Seja bem vida ao blog! Suas participações serão muito importante para nossas discussões. Um grande abraço!

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